Museu do Pão Moinho Colognese

Ilópolis, RS
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ficha técnica

Ano:
2005
Área:
530m²
equipe:
Francisco Fanucci, Marcelo Ferraz, Anselmo Turazzi, Anne Dieterich, Carol Silva Moreira, Cícero Ferraz Cruz, Fabiana Fernandes Paiva, Gabriel Grinspum, João Grinspum Ferraz, Luciana Dornellas, Pedro Del Guerra, Victor Gurgel e Vinícius Spira
Imagens:
Nelson Kon, Leonardo Finotti e Acervo Brasil Arquitetura
Premiações:

2008 – Vencedor Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, categoria Preservação de Bens Móveis e Imóveis, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, Brasília DF

2008 – Vencedor prêmio O Melhor da Arquitetura, categoria Edifícios de Uso Misto, revista Arquitetura & Construção, São Paulo

2008 – Finalista prêmio World Architecture Festival, Barcelona, Espanha

2008 – Vencedor Prêmio Rino Levi, Instituto de Arquitetos do Brasil, São Paulo

2009 – Menção honrosa Prêmio Gubbio, seção América Latina e Caribe

2010 – Finalista VII Bienal Iberoamericana de Arquitectura y Urbanismo – BIAU, Medelim, Colômbia

Descrição:

Devemos encarar a cultura como algo que vai da tradição à invenção. Temos de preservar o que de melhor criamos e construímos em história, sob pena de nos aprisionarmos num presente desfigurador. E precisamos apostar no novo, porque ele é ingrediente fundamental de afirmação e de transformação de nossas comunidades e do conjunto da sociedade. Essa dialética permanente entre tradição e invenção, somada à nossa abertura crítica para assimilar e recriar linguagens e informações produzidas em outros cantos do planeta, é um traço central da cultura brasileira.

Dentro dessa ótica os imigrantes italianos construíram o moinho de Ilópolis. Foi também dentro dessa mesma ótica que restauramos o Moinho Colognese e criamos o Museu do Pão, conjunto que compreende o museu, a oficina de panificação e o próprio moinho.

No final do século 19 e início do 20, o Brasil recebeu uma grande quantidade de imigrantes vindos dos mais diversos países, como Alemanha, Japão, Itália, Líbano, Ucrânia e Polônia. Tratava-se de uma tentativa do governo brasileiro de branquear um país predominantemente negro, recém-saído de séculos de escravidão, recebendo trabalhadores estrangeiros que fugiam da fome e da pobreza em suas terras de origem.

Da Itália, bastante empobrecida, vieram principalmente habitantes da região do Vêneto, que se fixaram, em sua maioria, em São Paulo e no Sul do país. Como novos colonizadores, esses imigrantes desbravaram as terras que receberam do governo e que ficavam em regiões serranas de difícil acesso, uma vez que as terras mais planas e férteis já estavam nas mãos dos alemães, que haviam chegado antes.

Era, novamente, a conquista da América; o sonho de uma nova vida, uma nova era. E do encontro de italianos e brasileiros nasceu uma cultura miscigenada, com traços originais e singulares.

Um dos testemunhos mais fortes dessa época e dessa epopeia são as construções dos moinhos coloniais que ainda hoje encontramos na região da Serra Gaúcha. Esses artefatos, destinados à fixação das comunidades em torno da produção de farinha, são frutos do conhecimento e da engenhosidade trazida pelo imigrante e do encontro, na região, de novos materiais – basicamente a madeira da araucária, o pinho brasileiro.

Os remanescentes desses moinhos, encontrados aqui e ali na exuberante paisagem da serra, são belos e insubstituíveis documentos da nobre junção da técnica com a estética.

Mas apesar de sua importância histórica, esses moinhos estavam fadados a desaparecer em virtude do abandono e do esquecimento típicos de nossos dias. Em 2003, num grupo de amigos, foi lançada a ideia da criação de uma rota turístico-cultural – o Caminho dos Moinhos – e iniciada uma campanha de coleta de fundos para a recuperação de um primeiro exemplar, o Moinho Colognese, construído no início do século passado em Ilópolis – pequena cidade encravada no alto do Vale do Taquari.

Para não cair num projeto nostálgico, decidimos agregar a esse moinho – que deveria ser restaurado para voltar a funcionar e produzir farinha de milho para polenta – o Museu do Pão e a Oficina de Panificação. Novas necessidades, usos contemporâneos. E assim nasceu o projeto arquitetônico do conjunto.

Com uma linguagem arquitetônica contemporânea e bastante brasileira, dois novos blocos em concreto e vidro dialogam com o velho moinho de madeira. Cem anos os separam no tempo, mas uma ideia forte os une, e é justamente a da celebração da madeira. Tudo ali é araucária: o moinho e seus mecanismos, as novas varandas e os passadiços que lembram as casas dos imigrantes, os painéis corrediços brise-soleil, os capitéis dos pilares a lembrar das fantásticas estruturas internas dos moinhos e até o concreto armado, marcado – como em fotografias – pelas formas de tábuas.

Com o tempo, todos esses elementos se aproximaram em aparência pelo tom acinzentado do envelhecimento da madeira: mimese à distância e verdade dos materiais quando vistos de perto.

Nesse pequeno conjunto, tudo é museu e museografia, incluindo aí a arquitetura, o jardim, os objetos e seus significados. A peça principal desse museu é o próprio moinho; no jardim uma coleção de pedras mó – granito e basalto de várias cores e durezas, destinadas a diferentes tipos de moagem de milho e trigo; no entorno, um pequeno canal de água alimentado por uma nascente embaixo do moinho delimita o terreno do museu; é uma referência e uma homenagem a Carlo Scarpa, grande arquiteto, também do Vêneto, que tantas lições nos deixou no diálogo da arquitetura contemporânea com a antiga.

Acreditamos que nessa obra a arquitetura cumpre seu nobre papel de renovação cultural, protagonizando o reencontro da comunidade local com sua história, agora em novas bases de sonhos e utopia: arquitetura de raízes e antenas.

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