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A Casa do Benin é a documentação realizada do “Fluxo e Refluxo”, o livro fundamental de Pierre Verger sobre o não tão longínquo episódio África-Brasil.
Nós, arquitetos, herdamos com o casarão do Pelourinho, sede da Casa do Benin, uma restauração “estrutural” bastante pesada, executada na administração municipal precedente: colunas e vigas mal se ajustavam à simplicidade elegante de uma estrutura original, provavelmente de madeira. Um belíssimo muro-muralha de pedras e terra corria paralelo à fileira de portas-janelas da grande fachada. O “muro” (tinha um reboque grosso que tiramos logo) acabava solto, antes de se juntar ao forro: acima dele, apoiado nas vigas e colunas, um balanço de concreto sustentava os andares superiores. Entre o balanço e o muro uma “tira” contínua de céu azul. Um segundo de espanto e, logo depois, Terapia Intensiva:
1º) Os andares separados, isolados, sozinhos, foram reunidos verticalmente por um “buraco”, uma abertura que, do térreo, chega até a cobertura do último andar.
2º) As colunas de concreto, “demais” para um espaço tão pequeno, forma revestidas de palmas de coqueiro, trançadas a mão, conforme os trabalhos de folhas, taquaras e fibras dos Países Africanos.
3º) O meio de comunicação entre os três andares, isto é, a escada, marcada no projeto antecedente no meio do espaço térreo, foi deslocada entre as “colunas” e o muro de pedras e terra, como caminho contínuo, moderno, mas em linha com as escadas contínuas do tempo da Colônia.
4º) O muro de pedra e terra, raspado o reboque, ficou parado, com seu perfil irregular, antes de atingir o balanço da estrutura de concreto: limpamos cuidadosamente e colocamos um vidro protetor na sutil tira de céu azul que o limitava no alto.
5º) Para atingir o terceiro e último andar (a hospedaria dos visitantes africanos), uma escada de ferro: estrutura leve.
É tudo. A Exposição de Artesanato do Benin é apresentada neste ambiente. Artesanato Pobre (no sentido mais moderno da palavra), como o artesanato de todo o Nordeste Brasileiro. Pobre, mas rico de fantasia, de invenções, uma premissa de um futuro livre, moderno, que possa, junto às conquistas da prática científica mais avançada, guardar, no início de uma nova civilização, os valores de uma história cheia de dureza e poesia.
BARDI, Lina Bo. CASA DO BENIN NA BAHIA – AU – nº 18 – São Paulo, 1988 apud Lina Bo Bardi / Marcelo Carvalho Ferraz, org. – 4.ed. – São Paulo: Instituto Bardi: Casa de Vidro: Romano Guerra Editora, 2018, p. 282.