Cais do Sertão

Recife, PE
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ficha técnica

Ano:
2009
Área:
8.500m²
equipe:
Francisco Fanucci, Marcelo Ferraz, Fábio Oyamada, Pedro Del Guerra, Anne Dieterich, Anselmo Turazzi, Beatriz Marques, Cícero Ferraz Cruz, Fabiana Fernandes Paiva, Felipe Zene, Fred Meyer, Gabriel Grinspum, Gabriel Mendonça, Luciana Dornellas, Victor Gurgel, André Carvalho, Julio Tarragó e Laura Ferraz
Imagens:
Nelson Kon, Fred Jordão, Joana França, Marcelo Ferraz, Fred Meyer e Acervo Brasil Arquitetura
Premiações:

2018 – Vencedor Prêmio Nacional do Turismo, categoria Valorização do Patrimônio pelo Turismo, Ministério do Turismo, Brasília DF

2018 – Vencedor Prêmio IAB-SP – Especial 75 anos, categoria Restauro e Requalificação – Executado, Instituto de Arquitetos do Brasil, São Paulo

2018 – Selecionado Prêmio Oscar Niemeyer, Red de Bienales de Arquitectura de América Latina – REDBAAL

2018 – Finalista V Prêmio de Arquitetura Instituto Tomie Ohtake Akzo Nobel, São Paulo

2019 – Vencedor Prêmio Obra do Ano, website Archdaily Brasil; 2019 – Destaque Prêmio Gubbio, seção América Latina e Caribe

2018 | 2019 – Destaque Prêmio Internazionale ala Committenza di Architettura Dedalo Minosse Undicesima Edizione, Vicenza, ALA – Assoarchitetti, Regione del Veneto e Comune di Vicenza

2021 – Vencedor 14ª Bienal de Arquitectura Boliviana, categoria Obra Construída Internacional, Colegio Departamental de Arquitectos de La Paz CDALP e Colegio de Arquitectos de Bolivia CENA CAB, La Paz, Bolívia

Descrição:

Em 2009, o governo federal decidiu fazer um museu em homenagem a Luiz Gonzaga. Um grande museu que contasse sua trajetória de vida e mostrasse por que esse homem, com sua vasta obra, transformou-se em um dos mais sólidos pilares da cultura brasileira. Não é preciso dizer aqui quem é Luiz Gonzaga, o Mestre Lua, pois ele habita o espírito e o imaginário de todos os brasileiros, mesmo sem que muitos de nós tenhamos clareza disso.

A partir da indicação do antropólogo Antonio Risério, que escreveu o texto fundador do museu, fomos convidados pelo Ministério da Cultura para elaborar o projeto. Montamos uma equipe multidisciplinar para, desde o início, pensar arquitetura e conteúdo como um conjunto. Pensar nos espaços e nas sensações a criar no espectador, nas informações a serem transmitidas e nas experiências a serem vividas naquele espaço. Para a construção do museu, o governo do estado de Pernambuco destinou um dos armazéns do antigo Porto do Recife e uma grande área contígua. Uma área à beira-mar, na ilha histórica onde nasceu a cidade do Recife, junto ao marco zero.

Ao mergulhar na obra de Gonzaga, nos deparamos com o óbvio: ninguém melhor que ele cantou (e contou) o sertão. Não há aspecto da vida sertaneja que tenha ficado fora de suas quase setecentas canções, verdadeiras joias da música brasileira. Decidimos então que o museu deveria, ao cantar Luiz Gonzaga, contar o sertão e, inversamente, contar o genial inventor cantando o sertão. Já não sendo somente um museu em homenagem ao artista, deveria trazer o sertão para a beira do mar, abrindo os olhos para o universo fantástico, ao mesmo tempo rico e pobre, trágico e festivo, violento e poético de grande parte da população que habita essa vastidão territorial chamada sertão.

Assim nasceu o Cais do Sertão Luiz Gonzaga. Em consonância com a proposta urbanística do estado e do município de manter os antigos galpões do porto, dando-lhes novas funções, começamos a desenvolver nosso projeto com o aproveitamento de um deles (2.500m2) e criando um novo edifício (5.000 metros quadrados) conectado ao galpão, reforçando a estrutura longilínea de construções do porto, para abrigar todo o programa do museu.

Para o antigo galpão, inaugurado em 2014, foram destinadas as funções de museu propriamente ditas, com a exposição de longa duração em homenagem a Gonzaga e ao mundo sertanejo. O novo edifício, por sua vez, inaugurado em 2018, abriga um auditório com trezentos lugares, salas para exposições temporárias, cursos, reserva técnica, biblioteca e um restaurante sertanejo no jardim da cobertura, de onde se descortina de um lado o Recife antigo e, do outro, o mar e seu arrecife.

Para esse novo edifício utilizamos o concreto pigmentado amarelo-ocre, que remete ao solo quente do agreste. Com uma estrutura de concreto protendido, projetamos um grande vão de aproximadamente 65 metros, justamente em frente à Torre Malakoff, para criar uma grande praça coberta, abrigo do forte sol e das muitas chuvas da cidade. Essa praça coberta, como uma varanda urbana, possibilita uma infinidade de usos ao abrigo do sol e da chuva.

Mas o mais importante elemento da arquitetura é o cobogó gigante, criado especialmente para o projeto. Nada mais justo do que o uso do cobogó nas construções do Recife, cidade onde ele nasceu, pelas suas características de amenizar a relação dos espaços interior/exterior: filtro de luz para os de dentro e uma doce e amaciada fachada para os de fora. São 2.100 peças de 1m x 1m, com 140 quilos cada, com desenho que remete à galhada da caatinga ou às rachaduras de solo seco – além de outras interpretações possíveis. No conjunto, uma verdadeira renda branca sobre o concreto amarelo.

Se tivéssemos que resumir em poucas palavras o que é o Cais do Sertão Luiz Gonzaga, diríamos que é o encontro da técnica com a poética, do high-tech com o low-tech, do rigoroso e rico conteúdo com a possibilidade da livre interpretação e desfrute; enfim, lugar para o gozo estético. Sertão à beira-mar.