Ano: 2017
equipe:
francisco fanucci, marcelo ferraz, roberto brotero, anne dieterich, cícero ferraz cruz, gabriel mendonça, julio tarragó, laura ferraz, luciana dornellas, pedro renault e william campos, gabriel carvalho, guega rocha carvalho, heloisa oliveira e juliana ricci.
Área: 4.020m2
Área: fafa marauju
Descrição:
Partindo de uma escala maior, a mancha verde do Terreiro de Òsùmàrè, na encosta da avenida Vasco da Gama, representa o que foi ao longo de séculos a lógica da ocupação do território acidentado de Salvador: pequenas construções nas cumeadas dos morros junto aos caminhos de acesso, ladeadas pela vegetação exuberante assentada em declive até os vales dos rios e córregos.
Esse modelo foi desaparecendo nas últimas décadas, sendo destruído pelo processo de urbanização desenfreado e massivo. E o Terreiro de Òsùmàrè, tombado como patrimônio histórico nacional, conserva essa característica original e lógica de se mediar construção com preservação da natureza. Na área urbana de Salvador, é um dos últimos remanescentes daquele que foi o modelo de ocupação adaptado à topografia e aos acidentes geográficos, e tem se preservado graças às tradições dos cultos do candomblé. O projeto de intervenção pode ser dividido em três grandes blocos, que correspondem aos três patamares topográficos. No núcleo superior será erguido um novo edifício – sacerdotal – em tons de terra ocre amarelado. O pavimento térreo contará com uma cozinha de porte industrial. Os pavimentos superiores abrigarão lavanderia, alojamentos, residência do babalorixá e administração. A escada desse núcleo ligará o patamar central do barracão à rua de cima. E, a exemplo da escada atual do núcleo inferior, deverá ser um marco simbólico forte. Para o núcleo central, o projeto prevê basicamente reformas com algumas demolições e algumas pequenas novas construções, com ampliação do espaço de culto do barracão e remodelação de áreas adjacentes. Uma importante demanda que deve ser destacada nesse núcleo é a expansão do pátio frontal ao barracão – cobertura do núcleo inferior – para abrigar maior número de pessoas com segurança e conforto em dias de festa. O núcleo inferior foi pensado para abrigar o Memorial do Terreiro de Òsùmàrè – a ser construído nos pisos inferiores, onde serão instalados o auditório, a sala de exposições, a biblioteca e áreas de apoio. Esse novo bloco – institucional e representativo – será todo revestido de argamassa pigmentada em vermelho terroso óxido de ferro para se destacar do restante das construções.
A grande e longa escada branca que penetra a mata e leva até o pátio frontal será mantida e recuperada. É um forte elemento simbólico do terreiro. A partir de seus patamares são definidos os novos planos das áreas adjacentes, como forma de facilitar os acessos aos caminhos da mata e às árvores sagradas e de culto. Um desses planos deverá abrigar uma grande praça ligada à casa de Exu. Será mais um espaço para ritos, encontros e lazer. A Mata Escura, como era conhecida essa região da cidade até o início do século 20, deverá ser recuperada e adensada, recebendo caminhos em suaves rampas para passeios e contemplação da natureza e do sagrado. Na parte mais baixa do terreno, no nível da calçada da avenida Vasco da Gama, a Casa das Artes será um espaço destinado à execução dos projetos sociais e culturais que o terreiro já implementa em benefício da comunidade interna e externa. Como linhas gerais, o projeto busca uma unidade de linguagem nas intervenções, tentando manter a integridade e
a forte personalidade das construções e espaços existentes, em consonância com as futuras construções. Procuramos introduzir com nossa arquitetura elementos da natureza, como a pedra nos muros de arrimo; a terra em diferentes tons (ocre e vermelho óxido de ferro) no reboco dos novos blocos, em contraste com o branco do leite de
cal utilizado atualmente nas casas de santos; ainda a terra batida em pisos como a futura praça de Exu; e pedriscos nos caminhos da mata. Com a participação de artistas convidados, elementos simbólicos deverão habitar os muitos nichos do futuro bloco institucional, a exemplo das figuras dos palácios de Abomei, no Benim. O azul e branco que hoje trazem luz ao terreiro deverão continuar a vibrar após a implantação do projeto. Novos cobogós foram desenhados para proteção das varandas e terraços de todo o conjunto, inspirados na simbólica cobra enrolada. E, de cima para baixo, ou de baixo para cima, a longa escada também representará a cobra/caminho a cruzar as terras sagradas de Ilê Òsùmàrè.
Prêmios
- projeto selecionado para a mostra “muros de ar” do pavilhão brasileiro da 16° bienal de arquitetura de veneza (2018)