Ano: 2018
equipe:
francisco fanucci e marcelo ferraz
Área: 4.020m2
Área: acervo brasil arquitetura
Descrição:
Em 2016 a municipalidade de Registro, em acordo com o Sesc SP, doa a esta instituição o conjunto histórico conhecido como KKKK para que ali seja instalada uma nova unidade Sesc. Diferentemente do que se passa com outras unidades do Sesc SP, seja na capital metropolitana, seja em cidades médias, o Sesc Registro apresenta características peculiares que o tornam um caso à parte. Isso se explica em grande medida pela geografia, quando observada tanto em escala macro (regional) quanto micro (local). A unidade de Registro nasce com a vocação e dever de cumprir sua missão de centro de convivência – cultura, esporte, lazer – para todo o Vale do Ribeira. Essa região do estado, ao longo de décadas, foi vista e tratada como de segunda classe pelas autoridades constituídas e políticos, relegando-a a certo isolamento. Esse isolamento se explica também pela sua paisagem física, de montanhas e várzeas inundáveis, clima tropical agressivo quente e úmido, e a forte presença da mata atlântica, fatores que dificultaram e ainda dificultam seu acesso. Nesse pequeno universo do Vale do Ribeira, formado por
23 municípios e uma população de 443 mil habitantes, em que o caudaloso Rio Ribeira de Iguape reina e dita os ciclos e ritmos de vida das comunidades, Registro figura como capital.
A escala micro – ou local – do Sesc Registro também o torna singular. Primeiro por ser (quando completado pelo segundo módulo) um conjunto dividido em dois blocos separados por uma praça pública, ocupando dois terrenos que não se tocam, ambos na barranca do rio. Uma das partes, já em funcionamento – o conjunto histórico arquitetônico KKKK –, é totalmente aberta e integrada à cidade, sem cercas, muros ou portões. E assim será também o segundo módulo a ser implantado do outro lado da praça.
Isso se dará, novamente, não apenas pela continuidade do modulo histórico, mas também pela decisão projetual de se prolongar a praça aos novos domínios do Sesc e pela necessária proteção e prevenção contra as cheias que, de tempos em tempos, inundam toda a área. Isso nos sugeriu elevar o novo edifício do solo, criando assim uma grande varanda urbana, abrigo de sol e chuva para os usuários e transeuntes, palco público para as mais diversas atividades. Esses aspectos distintos da unidade Sesc Registro instauram um modo próprio de se relacionar de forma espacial com o ambiente urbano e público. Ali estarão mais fortemente representados, com a construção do segundo módulo, a natureza exuberante e o manancial cultural da ocupação humana que cercam o majestoso Ribeira de Iguape: a montante, até as encostas de Eldorado e Iporanga; a jusante, até Iguape, Cananeia e as ricas águas do Oceano Atlântico.
Essa unidade, quando completa, deverá ser o epicentro, em solo urbano, do encontro das culturas de origem caipira, caiçara, quilombola, indígena-guarani e nipo-brasileira na vida contemporânea de uma cidade que assume cada vez mais seu papel de capital regional do Vale do Ribeira. Uma longa marquise/passarela em concreto fará a ligação do módulo 1, o histórico KKKK, com o módulo 2, atravessando a praça Beira Rio e sinalizando assim a presença da unidade
do Sesc Registro em ambos os lados. Sem dúvida, será uma intervenção urbanística na paisagem ribeirinha que organizará os acessos, limites da praça, fluxos de pedestres, além de marco novo na paisagem a emoldurar a curva do rio. Utilizaremos o concreto pigmentado com óxido de ferro nas novas estruturas da passarela e do edifício novo, bem como nos embasamentos da piscina, rampas e escadas. Procuramos o mesmo tom vermelho dos tijolos do Conjunto KKKK para o concreto de forma a criar uma unidade visual da presença do Sesc na cidade de Registro. Assim também se dará com a utilização das treliças de madeira – muxarabis – já empregadas no conjunto histórico. Mas essas referências que criam certa unidade não visam disfarçar as diferenças históricas dos cem anos que separam os dois conjuntos (o KKKK foi construído em 1920). Elas estarão presentes e explicitadas nas soluções arquitetônicas de cada tempo, nas técnicas construtivas e nos materiais – tijolo de um lado e concreto de outro –, sem sobreposição e nem submissão de parte a parte.
Prêmios
- projeto selecionado para a mostra “muros de ar” do pavilhão brasileiro da 16° bienal de arquitetura de veneza (2018)