Ladeira da Misericórdia –
Colaboração com Lina Bo Bardi

Salvador, BA
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ficha técnica

Ano:
1987
Área:
-
equipe:
Lina Bo Bardi, Marcelo Ferraz e Marcelo Suzuki
Imagens:
Acervo Instituto Bardi - Casa de Vidro
Premiações:

Descrição:

A palavra restauração lembra, em geral, as tristes restaurações. Dentro de um certo período histórico precedente, há a destruição de um edifício, isto é, a destruição pelo Tempo, ou pelos homens, por incidentes, por uma guerra, um terremoto…

Em geral, a restauração é a restituição a um estado primitivo de tempo, de lugar, de estilo. Depois da Carta de Veneza, de 1965, as coisas melhoram, mas aquele marco de ranço numa obra restaurada sempre continua. É muito difícil não perceber ou sentir isso entrando num restauro.

O que estamos procurando na recuperação do Centro Histórico da Bahia é justamente um marco moderno, respeitando rigorosamente os princípios da restauração histórica tradicional. Para isso, pensamos num sistema de recuperação que deixe perfeitamente intacto o aspecto não somente exterior, mas também o espírito, a alma interna de cada edifício.

Será um sistema de pré-moldados, perfeitamente distinto da parte histórica, que será denunciado pela sua estrutura e pelo tempo atual. Não vamos mexer em nada, mas vamos mexer em tudo.

BARDI, Lina Bo. LADEIRA DA MISERICÓRDIA – Projeto – nº 133 – São Paulo, 1990 apud Lina Bo Bardi / Marcelo Carvalho Ferraz, org. – 4.ed. – São Paulo: Instituto Bardi: Casa de Vidro: Romano Guerra Editora, 2018, p. 292.

 

 

Outro problema muito sério, talvez mais importante do que a própria restauração arquitetônica, é o problema social. Em geral, as pessoas são tiradas das habitações, são providenciados outros abrigos na periferia das cidades. Nos edifícios restaurados são instaladas boutiques para turistas, exposições, artesanatos feitos em São Paulo, etc. Agora, a idéia principal da recuperação em Salvador é justamente a de manter a população que mora nas casas que precisam ser restauradas, recuperadas.

A idéia geral é de fazer, embaixo, comércio de subsistência, “sub’áquea”, isto é, produção de comidas, pequenos trabalhos, recuperação, restauração, consertos de coisas. E, em cima, habitação. Aquilo que existe atualmente na Bahia é justamente este tipo de coisa.

Esta é a idéia que acompanha a restauração arquitetônica do Centro Histórico de Salvador.

O projeto piloto da Ladeira da Misericórdia ainda não foi aproveitado por não ter sido compreendido como uma coisa realmente popular, feita para a população da área, não para os turistas.

Na Ladeira da Misericórdia, na Bahia, nós preservamos, segundo todas as regras da preservação tradicional, aquilo que sobrou: quatro paredes com janelas.

Mas isto era apenas uma casca de ovo vazia que precisava de uma restauração técnico-histórica de sustentação. Não se poderia colocar colunas no interior, pilares, vigas invadindo espaços que originalmente eram livres e tinham uma estrutura elegante. Nós utilizamos, em colaboração com o arquiteto João Filgueiras Lima, o “Lelé”, a argamassa armada, um sistema derivado do famoso ferro-cimentado do engenheiro italiano Pier Luigi Nervi, que o registrou em 1937.

Fizemos contrafortes, como se fazem em países onde há terremotos, e lajes isostáticas que permitiram reconstituir os ambientes antigos com paredes de tijolos contínuas, sem pilares e vigas.

BARDI, Lina Bo. LADEIRA DA MISERICÓRDIA – Aula FAU/USP – São Paulo, 1989 – Projeto – nº 149 – São Paulo, 1992, Edição Especial apud Lina Bo Bardi / Marcelo Carvalho Ferraz, org. – 4.ed. – São Paulo: Instituto Bardi: Casa de Vidro: Romano Guerra Editora, 2018, p. 295.

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