Casa Tamboré

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De início, um amplo terreno com declive suficiente e perspectiva generosa sobre um entorno florestal interessante. A encomenda de um programa muito extenso coloca desde logo o desafio de evitar o palacete maciço, na tentativa, ao contrário, de “povoar” o vasto espaço disponível, aí criando eventos concatenados no tempo e no espaço, proporcionando itinerários diversos para a sua descoberta e percepção gradativas.

Simplicidade, clareza e funcionalidade são as idéias que orientam as primeiras escolhas em termos de distribuição e construção: dois blocos paralelos interligados em pontos convenientes, elementos estruturais de concreto e alvenarias solidarizados, cobertura de barro de convenção. No bloco frontal, os ambientes de convívio debruçados sobre a vista, a piscina e os jardins da propriedade. No bloco posterior, dormitórios, banheiros, quartos de vestir.

A partir desse esquema distributivo inicial, o projeto vai operando sucessivas distensões na volumetria e na implantação, toda vez que se manifesta a coincidência de uma necessidade programática com a pertinência do conceito plástico racional aqui adotado. Para que o resultado traduza uma lição da experiência, explicitam-se ainda mais os raciocínios projetuais quando se distinguem com a pintura branca os dois blocos principais, em contraponto à pintura azul dos volumes secundários que lhes são agregados de forma a acomodar os desdobramentos pontuais do programa. Do mesmo modo, também a excelência tecnológica de um concreto aparente de cálculo crítico, de uma caixilharia de grandes vãos e boas madeiras, de tirantes metálicos sustentando marquises em balanço ou de um forro curvo de ripas só intervirão onde a excepcionalidade do elemento programático e espacial o justificar.

CALDEIRA, Vasco. Casa Tamboré. In: FANUCCI, Francisco; FERRAZ, Marcelo Carvalho. Francisco Fanucci, Marcelo Ferraz: Brasil Arquitetura. São Paulo, Cosac Naify, 2005, p. 116.