Teatro Polytheama

Jundiaí, SP
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ficha técnica

Ano:
1995
Área:
3.158m²
equipe:
Francisco Fanucci, Marcelo Ferraz, André Vainer, Marcelo Suzuki e Roberval Guitarrari
Imagens:
Nelson Kon e Acervo Brasil Arquitetura
Premiações:

Vencedor Prêmio Rino Levi 1996, Instituto de Arquitetos do Brasil, São PauloVencedor Prêmio IAB-SP 1996, categoria Edificações – Obra Construída, Instituto de Arquitetos do Brasil, São PauloVencedor XI Bienal Panamericana de Arquitetura de Quito 1998, categoria Reabilitação Arquitetônica, Quito, EquadorFinalista, I Bienal Iberoamericana de Arquitectura e Ingeniería Civil 1998 (atual Bienal Iberoamericana de Arquitectura y Urbanismo – BIAU), Madri, Espanha

Descrição:

Em 1911 era inaugurado na cidade de Jundiaí, interior de São Paulo, um pavilhão para abrigar o Theatro Polytheama, que se torna o grande centro de diversões dos jundiaienses. Afastado do centro da cidade, tratava-se de um local destinado a acolher exibições que incluíam desde apresentações de teatro e sessões de cinematógrafo até espetáculos circenses e eqüestres num picadeiro camuflado.

Entre 1927 e 1928, o edifício sofreu reforma radical, quando perdeu sua aparência de pavilhão e ganhou uma fachada eclética em dois pavimentos, para se transformar num cine-teatro elegante, equipado tecnicamente com o que havia de mais moderno na época, passando inclusive a sediar reuniões políticas e bailes de Carnaval.

O teatro sobressai no perfil urbano de Jundiaí, mas continua acomodado no mesmo lote da mesma rua estreita. Alinhado com outras construções de porte mais modesto, muitas delas residenciais, não chegou a merecer tratamento urbanístico que lhe conferisse destaque. Desde então, foram quarenta anos de bons serviços culturais prestados à cidade, até ser fechado, arruinado por falta de manutenção, sem condições de funcionamento.

A primeira iniciativa para restaurar o Polytheama data de 1986 e foi coordenada pela arquiteta Lina Bo Bardi, contando com uma equipe composta pelos arquitetos André Vainer e Marcelo Ferraz. O propósito da arquiteta era recuperar o caráter original do espaço polivalente, propiciando-lhe condições técnicas para abrigar diferentes tipos de espetáculos, eruditos e populares. A fachada principal, de um ecletismo singelo, seria restaurada, e uma circulação em forma de tubo náutico em concreto leve seria acoplada à fachada lateral, sobre o terreno vizinho, para permitir o acesso do público às arquibancadas e galerias laterais. Os interiores seriam totalmente refeitos, pondo a nu a estrutura original de ferro do telhado e o aparelhamento dos tijolos do velho pavilhão, aumentando o número de lugares e alargando a boca de cena e o fundo do palco, que se transformaria em janela aberta sobre a cidade.

O projeto só foi retomado em meados dos anos 90 pelo escritório Brasil Arquitetura, sem a presença de Lina Bardi mas seguindo o mesmo princípio norteador definido por ela: resgatar a “alma popular e polivalente” da edificação. Os arquitetos, entretanto, tiveram que reestruturar o projeto, por não poder mais contar com o terreno vizinho para organizar o fluxo de público e artistas, resolvido desta feita no interior do corpo do teatro. No final, nem mesmo foi construído o prédio anexo, que se localizaria em desnível no fundo do lote e que fora projetado para dar apoio às atividades artísticas e administrativas.

A solução alternativa adotada foi a construção de uma galeria e de uma caixa de escada em concreto aparente, instaladas no recuo lateral, entre a fachada e o muro da divisa, com seus contrafortes de tijolo expostos. A nova circulação transplantada para o interior do edifício também recorreu a passarelas de concreto, tanto no foyer de pé-direito duplo como nas laterais para acesso às arquibancadas.

Na fachada principal, os relevos decorativos foram propositadamente dissolvidos pela pintura, branca e homogênea, transformando-se em sutil citação eclética. A estrutura metálica da marquise recuperada teve sua cobertura substituída por vidro, para amenizar o corte horizontal da fachada (na mesma linha). Todo o interior do teatro foi refeito e modernizado a partir das diretrizes de Lina Bardi: manter a forma de ferradura da platéia, mas com abertura da boca de cena e aprofundamento do palco, e recuperar a verdade e simplicidade da estrutura e dos materiais do pavilhão original. Apenas não foi aberta a grande janela atrás do palco, como estava previsto.

No tratamento do espaço da platéia foram especificados materiais que deveriam, pela “nobreza” e pelo desenho, estabelecer um contraste com a rusticidade do invólucro original: pau-marfim nos pisos e arquibancadas, pintura azul-ultramar nas paredes, prateado nas portas dos camarotes e nas frisas, pesada cortina de veludo vermelho no palco e uma escultura-lustre do artista José Roberto Aguilar. Composta de 365 bengalas de cristal agrupadas e penduradas entre os dutos de ar-condicionado e a estrutura de ferro do telhado, a escultura é um lustre que não acende, apenas reflete a luz que é projetada sobre ele; um toque final de mistério e preciosidade no ambiente.

SANTOS, Cecília Rodrigues dos. Teatro Polytheama. In: FANUCCI, Francisco; FERRAZ, Marcelo Carvalho. Francisco Fanucci, Marcelo Ferraz: Brasil Arquitetura. São Paulo, Cosac Naify, 2005, p. 32.