Teatro do Engenho Central de Piracicaba

Piracicaba, SP
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ficha técnica

Ano:
2009
Área:
2.850m²
equipe:
Francisco Fanucci, Marcelo Ferraz, Gabriel Grinspum, Anne Dieterich, Anselmo Turazzi, Beatriz Marques, Cícero Ferraz Cruz, Fabiana Fernandes Paiva, Felipe Zene, Gabriel Mendonça, Kristine Stiphany, Luciana Dornellas, Pedro Del Guerra, Rebeca Grinspum, Victor Gurgel e Vinícius Spira
Imagens:
Nelson Kon e Acervo Brasil Arquitetura
Premiações:

2012 – Vencedor Prêmio Antonio Luiz Dias de Andrade – Janjão, categoria Patrimônio Histórico – Requalificação e Restauro, Instituto de Arquitetos do Brasil, São Paulo

2012 – Vencedor prêmio IAB-RJ, categoria Arquitetura de Edificações, Instituto de Arquitetos do Brasil, Rio de Janeiro

2012 – Vencedor Prêmio Especial IAB-RJ, Instituto de Arquitetos do Brasil, Rio de Janeiro

Descrição:

São poucas as cidades brasileiras que conservam uma relação saudável e de respeito com seus rios. Piracicaba é uma delas. O Rio Piracicaba corta o centro da cidade com diversas áreas livres e públicas em suas margens, espaços que funcionam como respiros e dão a possibilidade de se desenvolver algo exemplar no que toca à vida e ao conforto urbanos. E isso se deve, em parte, a fatores contingenciais ou históricos, como no caso do Engenho Central, uma antiga indústria de açúcar e álcool localizada às margens do rio, desativada na década de 1970 e tombada como patrimônio histórico municipal e estadual. Posteriormente, desapropriada pelo poder público, passou a ser parte da vida dos habitantes enquanto importante centro de lazer e cultura.

O Engenho Central está implantado na margem direita do Rio Piracicaba, bem próximo ao centro urbano da cidade. Seus volumes avermelhados em tijolo aparente oferecem uma visão impressionante para quem passa pela outra margem do rio. Suas águas, após superar as corredeiras, retomam a calma e espelham as luzes do engenho. Um cenário singular da paisagem urbana.

O conjunto mantém-se com a integridade de quando foi desativado, resistente às grandes mudanças pelas quais passou o seu entorno nas últimas décadas. Mas não nasceu como está. Ao longo de sua vida foi recebendo acréscimos, reformas, demolições que guardam registros de várias épocas. Nesse processo, coisas belas se perderam e outras foram sendo incorporadas para formar aquilo que talvez corresponda a seu melhor valor: a cidadela.

O conjunto do Engenho Central é um dos maiores e mais importantes testemunhos arquitetônicos do modo de produção de açúcar e álcool que vigorou entre meados dos séculos 19 e 20. De seu maquinário quase nada restou, mas suas inúmeras e variadas construções estão lá. E o mais importante desse patrimônio, além de sua sábia implantação, é justamente a relação espacial entre as várias construções, que nos ajuda a desvendar a lógica da produção e suas transformações ao longo desses cem anos de vida, aquilo que poderíamos chamar de urbanismo industrial. São galpões e casas de escalas variadas, quase todos em tijolos à vista – linguagem universal da indústria do século 19.

Em 2002 elaboramos, junto a um grupo de colaboradores de Piracicaba, um plano diretor para toda a área do Engenho Central. Esse plano visava justamente dar um rumo e balizar as futuras intervenções que fossem feitas ali. Num dos mais belos e antigos de todos os galpões, projetamos o Teatro do Engenho (Teatro Erotides de Campos). Uma arquitetura que parte do interior do edifício e transforma os vazios em hall público, salas acusticamente equipadas, plateia, palco, galerias, bar e restaurante, salas de ensaio, camarins, salas técnicas de apoio. Ou seja, tudo que um teatro moderno carece para funcionar em sua plenitude.

Com um palco expandido e em dupla face, que se abre também para a praça central – coração de todo o conjunto –, o teatro é um importante equipamento de fomento e apoio às festas abertas, ao ar livre. É um espaço contemporâneo multiuso já investido de história. Sim, o antigo galpão era um grande depósito de tonéis gigantes e uma destilaria de álcool. Essa memória está nas dimensões industriais de seu pé-direito, em seu grande vão central e nos materiais empregados em sua construção – tijolos, telhas de barro, vigas de ferro e concreto –, que nos impressionam e nos levam a refletir sobre esses artefatos humanos construídos no passado. Nesse caso, um antigo local de trabalho árduo e duro, de sofrimento de muitos, um testemunho do trabalho humano, foi transformado em fábrica de diversão, criação, celebração e convivência, sem apagar sua vida pregressa.