Museu do Pampa

Jaguarão, RS
Download

ficha técnica

Ano:
2009
Área:
1.880m²
equipe:
Francisco Fanucci, Marcelo Ferraz, Gabriel Grinspum, Vinícius Spira, Anne Dieterich, Anselmo Turazzi, Beatriz Marques, Cícero Ferraz Cruz, Fabiana Fernandes Paiva, Felipe Zene, Gabriel Mendonça, Luciana Dornellas, Pedro Del Guerra, Victor Gurgel, Cheila Ferreira Garcia e Fernanda Macedo Petry Freitas
Imagens:
Nelson Kon, Marcelo Ferraz, Fred Meyer e Acervo Brasil Arquitetura
Premiações:

2019 – Vencedor Prêmio IAB-SP, categoria Restauro e Requalificação – Executado, Instituto de Arquitetos do Brasil, São Paulo

Descrição:

O tema central do Museu do Pampa é a singularidade da paisagem física e humana do que se chama pampa, no quadro da experiência brasileira. Trata-se de um museu no qual os visitantes poderão vivenciar a especificidade e a riqueza da natureza, da cultura e da história da região, bem como da sua importância para a formação do país.

O museu organiza um vasto conjunto de informações a partir de alguns eixos centrais. O primeiro deles é a singularidade da paisagem natural do pampa, com seus ecossistemas. O segundo eixo é a antiguidade da ocupação da região, habitada sucessivamente por povos e culturas desde a Pré-História. O terceiro aspecto é a mestiçagem genética e simbólica únicas que se deram no pampa – uma mistura singular de povos indígenas, ibéricos e africanos que gerou o gaúcho – e a produção cultural específica que essa mistura propiciou. O quarto eixo trata das guerras de fronteira e da constituição de uma identidade local.

O espaço destinado à instalação do museu é uma antiga edificação militar datada de 1883, em estilo neoclássico, estrategicamente erigida na coxilha denominada Cerro da Pólvora. O edifício, hoje tombado como patrimônio histórico nacional, foi abandonado no final da década de 1970 e, com o passar dos anos, entrou em estado de degradação, até serem iniciadas as obras de recuperação e reabilitação para a instalação do museu, ou Centro de Interpretação do Pampa, seu nome oficial.

Pela qualidade de sua arquitetura e pela imponência de sua implantação, o edifício marca fortemente a paisagem jaguarense – de onde se tem uma vista privilegiada do território uruguaio vizinho –, como que a guardar o pampa e a fronteira, como sentinela avançada. Conhecido como antiga enfermaria de Jaguarão, o conjunto teve esse nome cunhado pelo seu uso durante a Guerra do Paraguai. Nos anos mais duros da ditadura militar, serviu também como prisão política.

O edifício da antiga enfermaria foi recuperado com a manutenção de seu aspecto externo de ruína. O projeto procura, justamente, valorizar com essa imagem de abandono, a força simbólica já impregnada no imaginário da comunidade de Jaguarão há quase quarenta anos.

Uma construção contemporânea em concreto e vidro, interna e discreta no interior do conjunto, complementa com novas áreas as necessidades do programa do museu. Também em concreto foram complementadas algumas partes do que o tempo destruiu, como os muros que definem o quadrado perfeito do conjunto ou uma esquina do edifício principal. São as novas marcas do tempo, dentre tantas outras, que se amalgamam para contar a história através das pedras da alvenaria.

As antigas janelas, já desaparecidas com o tempo, não foram refeitas. Em seu lugar foram fixados somente tampões de aço corten ou vidro, reforçando a ideia de buracos abertos na fachada. Com o mesmo objetivo de acentuar a ideia de abandono, os telhados foram substituídos por laje plana, com jardim matagal composto por vegetação trazida pelo vento ou pássaros. Um auditório cavado na rocha bruta de basalto, totalmente subterrâneo, complementa o projeto e a ideia de mistério que cerca a história do conjunto, impregnada em sua arquitetura.

Em síntese, quando finalizada toda a obra, teremos por fora o fantasma solene, abandonado na paisagem a intrigar o visitante, desafiando-o a entrar e descobrir seu conteúdo. No interior, com acabamentos e o conforto que um museu contemporâneo requer e com a mais moderna tecnologia expositiva, teremos uma viagem ao pampa – sua natureza e seu imaginário.

Todos esses elementos – conceitos – utilizados na reabilitação da edificação histórica promoverão a transformação e a adequação do conjunto à sua nova vida. Um documento do passado cheio de glória, dor e sofrimento – feitos e fatos humanos – será agora ferramenta do futuro a ser construído, pautado na convivência.